Ambiguidades
Contos – Editora Penalux – 2021
“Ambiguidades”, a coletânea de contos da renomada escritora Adriana Vieira Lomar, é uma obra que mergulha fundo nos recessos da experiência humana, explorando as complexidades do cotidiano com um toque de surrealismo e uma pitada de realismo cru. Com 29 contos curtos, a autora tece narrativas que desafiam o leitor a confrontar o inesperado, o desconfortável e o desafiador.
Em “Despedaçada”, somos apresentados a uma mulher que tem seu corpo dividido ao meio pelo vento frio. Esse conto surreal não oferece respostas, apenas uma angústia profunda que se reflete nas palavras, explorando a ideia de como é viver apenas com metade de si mesma.
Outros contos como “Os gerânios me entendem” retratam situações inusitadas que surgem no mundo real, desafiando as normas e questionando a moralidade. A relação entre a observadora e a moça desconhecida é o ponto focal de tensão, lançando luz sobre as complexidades da interação humana.
Em toda a obra, Adriana Vieira Lomar constrói narrativas que se manifestam com intensidade, mergulhando fundo na ação ou deixando-a esvair lentamente, como folhas que caem suavemente de uma árvore.
O escritor baiano Hélio Pólvora sugere que o conto é um meio de busca e averiguação, uma forma de os autores navegarem por seus conflitos internos. Em “Ambiguidades,” esses conflitos se manifestam de maneiras diversas, com um fio condutor sendo as relações amorosas entre casais. A traição, a dor e o mistério entrelaçam-se em contos como “Odor” e “Insulto,” revelando as múltiplas dimensões do amor e da perda.
Outro tema recorrente é o clima de sonho, por vezes, de pesadelo, presente em contos como “Sonho de uma assassina” e “Tromba d’água”. Nesses textos, o leitor só descobre no final que estava imerso em um sonho, criando um efeito surpreendente.
A infância também é um tema explorado em “Ambiguidades”, especialmente em contos como “Fogo” e “Minha coleção de bolinhas de gude”. Essas narrativas apresentam personagens jovens que navegam pela complexidade das emoções e dos relacionamentos familiares, ressaltando como a infância é uma fase da vida onde as contradições e os desafios são intensamente vividos.
A poesia permeia toda a obra, conferindo um toque lírico às narrativas. Em “O Sol é retangular”, a neblina se torna um personagem por si só, destacando o poder da natureza de influenciar nossas vidas e destinos.
“Ambiguidades” é mais do que uma simples coletânea de contos; é uma exploração profunda das complexidades da experiência humana, um convite para questionar o que é real e o que é imaginário, e uma jornada literária que desafia as convenções e mergulha nas profundezas da alma. Adriana Vieira Lomar nos presenteia com uma obra que não só entretém, mas também provoca reflexão e introspecção, mantendo-nos cativados do início ao fim.